sexta-feira, 11 de julho de 2008

Menos é Mais: uma nova abordagem na contramão do consumismo intelectual

O ser humano é referencial, vive comparando a si mesmo e onde está com o outro, o que explica grande parte de sua insatisfação constante. Somada esta característica ao capitalismo que nos torna instrumentos do jogo de mercado, percebe-se na sociedade atual uma crescente valorização do “mais”: mais rico, mais bonito, mais inteligente, mais rápido, mais bem sucedido; uma lista interminável. Porém o mais irracional é que buscar ser “mais” em tudo, nos distancia do mais importante: a real satisfação de vida.
Na sua necessidade constante de aperfeiçoamento, uma das buscas mais constantes do homem contemporâneo é a de informações, através de cursos, livros, artigos e conversas. Conceitualmente, informações são dados com significado, e apenas rotinas operacionais podem ser tomadas a partir das mesmas, o que um computador com capacidade de processamento pode dar conta. Por outro lado, as competências são conjuntos de conhecimentos, habilidades e atitudes trabalhados a partir do processamento destas informações. O que nos diferencia das máquinas é a capacidade de tomar decisões criativas, lidar com a intuição, com as experiências anteriores, e felizmente (ainda) as máquinas não podem substituir o homem.
O grande risco no mundo moderno é nos tornarmos um poço de informações, mas um deserto de competências. Seja nas vivências pessoais ou profissionais, resultados concretos são resultado da aplicação de competências, e não apenas do acúmulo de dados e informações. Prova disso é que em alguns temas, especialmente em conteúdos mais filosóficos, é comum falarmos para nós mesmos: “Eu já passei por isso uma vez, por que errei novamente na mesma situação?”
O fato é que, na verdade, nunca soubemos completamente: ou sabíamos em um nível mais primário, ou apenas tínhamos nos informado, possivelmente em alguma das mil leituras dinâmicas que fazemos diariamente. Os autores Nonaka e Takeuchi, em sua renomada obra Criação do conhecimento na empresa (1997), definem o conceito da “espiral do conhecimento”, segundo a qual o conhecimento avança num processo de conversão do conhecimento do dia-a-dia (tácito) em conhecimento articulado (explícito) e então internalizado (novamente tácito), tornando-se então base do conhecimento de cada indivíduo. A evolução na espiral é contínua, porém em patamares de maturidade cada vez mais elevados, ampliando assim a aplicação do conhecimento em outras áreas.
Sendo assim, é uma ilusão acharmos que seremos competentes em tudo sobre o qual colecionamos informações. Se isto fosse verdade, os taxistas seriam as pessoas mais sábias do mundo, pois estão diariamente recebendo informações de todas as formas. Conhecimento é proveniente de informações processadas, aplicadas e comparadas. Por isso defendo que, mais importante do que buscar continuamente mais e mais informações, é preciso aplicar o que já sabemos.
Esta premissa parece ir contra as dicas dos mais conceituados consultores de carreira, que defendem o aprendizado contínuo, o desaprender constante e a criativa associação de conceitos. Mas entendo que até para aprender continuamente deve haver um equilíbrio entre crescimento e conforto. Sistemas precisam dos dois estágios para a sua sustentabilidade, e a miopia do aprender continuamente pode levar pessoas e empresas a um estresse que impede a real conversão de informação em conhecimento e sabedoria.
A disciplina de transformar informação em conhecimento, e aplicar o que já se sabe, será uma competência cada vez mais fundamental para pessoas e profissionais equilibrados. Analise os insucessos que vem tendo na sua vida, e perceba se já não se informou anteriormente a respeito deste tema. E aí, você está aplicando o que “aprendeu”? Decidiu aprender de verdade? O ser humano só muda realmente quando se cansa da situação de desconforto, e este é um passo fundamental para a aquisição do conhecimento: o querer de verdade, o acreditar, o bancar a mudança. Conhecer é deixar de ignorar a verdade, e por isso, mudar.
Espero que este artigo não seja mais um no rol de “portas abertas” que dissipam sua energia. Por isso lhe convido a refletir: o que você quer mudar na sua Vida? Do que você precisa se cansar para realmente querer mudar? Será que está aplicando aquilo que já sabe, ou prefere buscar a satisfação no vício do desconhecido? Simplifique a sua vida, busque o autoconhecimento, encontre um foco no “agora” para você desenvolver e oriente a aplicação do que já é e possui: uma coleção de riquezas, diferente de todas as outras coleções no mundo, e justamente por isso, abundante.
Fonte: Revista HSM

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