Quantas vezes nos questionamos sobre como estamos “vivendo” o nosso dia-a-dia? Quando abrimos os olhos pela primeira vez no dia, qual o primeiro pensamento que vem a cabeça? Estou feliz em acordar e saber que o dia me espera com muitas surpresas e desafios e sei que estarei fazendo a minha parte, seja ela qual for, da melhor maneira possível, e farei isso com muito prazer, ou penso no sofrimento que terei que agüentar e já estou pensando na hora de voltar para a cama?
Em 2006, quando estava fazendo a pé o Caminho de Santiago na Espanha e já havia percorrido em torno de 700Km, me deparei com uma placa que sinalizava que ainda restavam 100Km para chegar em meu destino final. Estava muito esgotado fisicamente e mentalmente, e saber que ainda precisava percorrer 100Km me fez parar por alguns minutos diante daquela placa e refletir sobre o que faria dali pra frente. Havia aceitado o desafio de percorrer a pé todo o caminho e o fato de desistir ou pegar algum tipo de condução estava descartado, mas por outro lado não agüentava mais e, como só conseguia percorrer aproximadamente 25Km por dia, ainda levaria mais 4 dias para chegar em Santiago. Neste momento entrei em conflito com a minha meta de concluir o Caminho e a minha vontade imediata de retornar para casa. Depois de pensar muito sobre o que deveria fazer, resolvi continuar o Caminho, mesmo que levassem 4 dias, ou quantos fossem necessários, mas continuaria até o final conforme havia planejado. A diferença deste ponto em diante, foi que decidi “aproveitar” ao máximo estes últimos 100Km e não fazê-lo sofrendo ou me lamentando, mesmo com todas as dificuldades, que incluíam bolhas imensas sob meus dois pés. Passei estes últimos quilômetros apreciando a vista, parando de baixo de árvores ou sob o sol para saborear frutas locais, conhecendo o máximo possível de pessoas e compartilhando conhecimentos. Percebi com isso, que cada dia que se iniciava era uma nova escolha a ser feita, onde eu podia passar corrido pelos locais ou saboreá-los ao máximo. E isto fez toda diferença!
Voltando ao Brasil e ao meu dia-a-dia, pensei muito sobre estes últimos 100Km e como poderia aproveitar esta experiência em minha vida pessoal e profissional. Bem, em primeiro lugar, o mais importante foi descobrir quais eram os meus próprios valores e confesso que por mais fácil que isto pareça, não é! Depois, parei para refletir sobre as primeiras perguntas que estão no início deste texto e descobri que precisava mudar algo urgente em minha vida. Depois de me escutar com honestidade e juntar as forças necessárias para ter coragem de mudar, decidi começar a caminhar de forma diferente e aproveitar ao máximo este caminho. Acordar pela manhã escolhendo como vou caminhar, mesmo sem saber se ainda restam 100 ou 1.000Km, ou quantas pedras, subidas e decidas terei que enfrentar. O mais importante é dar um passo de cada vez e escolher como fazer isso, pois no final, todos chegam em “Santiago”! Muitos “passam” por seus próprios caminhos, mas poucos o “fazem” de forma consciente. Creio que ainda mais importante do que chegar ao destino, seja a forma que escolhemos caminhar e o tipo de “pegadas” que deixamos para trás.
Fabiano Raupp - criado em 02/08/2007
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