sexta-feira, 26 de março de 2010

A polêmica jornada de 40 horas, por Ana Maria Rossi*

O estresse ocupacional é um assunto tão atual, que o tema foi projetado para as telas de cinema no filme Amor sem Escalas. O ator George Clooney vive um alto executivo especializado em demissões. A relação demissão e estresse não afeta apenas a realidade americana. Pesquisa realizada pela International Stress Management Association no Brasil (Isma-BR) revela que o medo de demissão foi identificado por 56% dos profissionais de São Paulo e Porto Alegre, só perdendo para o excesso de tarefas (62%).

Paralelamente a isso, o Brasil vive a polêmica da lei que propõe a redução da jornada de trabalho para 40 horas. Em meio ao embate entre empresários e centrais sindicais sobre a redução da jornada, mais uma vez se nota a lacuna entre a legislação e a realidade do mercado. O número de horas trabalhadas vem aumentando vertiginosamente. Um dos grandes desafios atuais é reduzir o aumento contínuo nos níveis de estresse e administrar o número de horas trabalhadas, em média, 52 horas por semana, mas deve chegar a 54 horas nos próximos anos.

De acordo com pesquisas brasileiras, poucos profissionais estão trabalhando o número de horas estabelecidas, ainda que essas horas extras muitas vezes não apareçam, justamente pelo medo de demissão. A exigência de sobressair-se num mundo globalizado e instantâneo faz com que as empresas exijam mais e mais de seus funcionários. Embora algumas empresas estejam atentas a este fato e aos custos com saúde, estimado em 4,5% do PIB/ano, pouco se tem visto em termos de programas de gerenciamento do estresse.

Outra pesquisa da Isma-BR aponta que 70% da população economicamente ativa no país vive estressada, sendo que 30% dela sofre de burnout (exaustão física e mental que pode levar à depressão e até ao suicídio). O estudo também revela que o desempenho profissional chega a ser de cinco horas a menos em relação aos demais trabalhadores.

O excesso de tensão no trabalho passou a ser algo tão comum, que, mais que uma ameaça à qualidade de vida, ele se tornou uma ameaça à própria vida. Daí a importância de entender o estágio que ele pode atingir e desenvolver mecanismos de defesa que auxiliem na melhoria da qualidade de vida e garantam o bem-estar. Será que a exigência apenas do cumprimento da carga horária acordada e o oferecimento de programas que capacitem os funcionários a lidar com as inevitáveis pressões do mundo corporativo não iriam propiciar outros resultados?

Fonte: Jornal Zero Hora de 24/03/1010

*Presidente da Isma-BR e representante brasileira na Divisão de Saúde Ocupacional da Associação Mundial de Psiquiatria (WPA)

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